quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

TREINO DA MENTE: NOS TORNANDO MESTRES EM LIBERAR-NOS DOS ESTADOS AFLITIVOS ASSIM QUE TOMAM FORMA.

As chamas ardentes da raiva secaram o rio do meu ser. A densa obscuridade da ilusão cegou a minha inteligência. Minha consciência se afoga nas torrentes do desejo. A nevasca enregelada da inveja arrastou-me para o samsara.A montanha do orgulho precipitou-me nos mundos inferiores.
O demônio da crença no ego me tem, firme, pela garganta.
DILGO KHYENTSE RIMPOCHE
Se as paixões são os grandes dramas da mente, as emoções são os seus atores. Durante toda nossa vida, atravessando nosso espírito como um rio tumultuado, elas determinam incontáveis estados de felicidade e infelicidade. É desejável domar esse rio, acalmá-lo? É possível fazê-lo? Se sim, como? Certas emoções nos fazem desabrochar, enquanto outras sabotam o nosso bem-estar. Há, ainda, aquelas que nos fazem definhar.
Lembremo-nos do termo eudamonia, uma das palavras gregas para “felicidade”, que significa floração, desabrochar, realização, graça. O amor dirigido para o bem-estar dos outros, a compaixão voltada para os seus sofrimentos, em atos e pensamentos, são exemplos de emoções que nos alimentam e que favorecem a irradiação da felicidade. Um desejo obsessivo, a avidez aferrada ao objeto de seu apego, bem como o ódio, são exemplos de emoções aflitivas que nos esgotam. Como desenvolver emoções construtivas e libertar-nos das destrutivas?
Apesar da rica terminologia de que dispõe, para descrever uma ampla gama de eventos mentais, as linguagens tradicionais do budismo não têm uma palavra para designar a emoção em si mesma. A causa disso, talvez, seja que, segundo o budismo, todos os tipos de atividade mental, inclusive o pensamento acional, estão ligados a uma sensação relevante de prazer, de dor ou de diferença. Igualmente, a maior parte dos estados afetivos, como o amor e o ódio, surge acompanhada de pensamentos. Em vez de distinguir entre emoções e pensamentos, o budismo está mais voltado à compreensão de quais tipos de atividade mental levam ao bem-estar, o nosso próprio e o dos outros, e quais são nocivos, especialmente a longo prazo. Isto é, na verdade, muito coerente com aquilo que as ciências cognitivas nos mostram sobre o cérebro e a emoção. Não se pode propriamente falar de “centros emocionais” no cérebro. Cada região associada a algum tipo de emoção também está associada a um aspecto cognitivo. Os  circuitos neuronais que veiculam as emoções estão intimamente ligados aos que veiculam a cognição. Esse arranjo anatômico é coerente com a visão budista, segundo a qual esses processos não podem ser separados: as emoções aparecem em um contexto de ações e pensamentos, quase nunca estão isoladas dos outros aspectos da experiência. Deve-se notar que isso contradiz a teoria freudiana, segundo a qual poderosas emoções, como a cólera e o ciúme, por exemplo, podem surgir sem a presença de qualquer conteúdo cognitivo e conceitual particular.

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